O Natal de Poirot - Agatha Christie

― Famílias que estiveram afastadas durante o ano todo reúnem-se mais uma vez. (...) haverá muita tensão. Pessoas que não se sentem cordiais fazem um grande esforço para aparentar cordialidade! Existe, no Natal, muita hipocrisia, hipocrisia louvável, hipocrisia gerada  pour le bom motif (...) mas, ainda assim, hipocrisia! 

Me senti enganada... só que não.

Título Original: Hercule Poirot's Christmas
Título: O Natal de Poirot
Subtítulo: --
Saga: -- Hercule Poirot
Autor(a): Agatha Christie
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 223
Sinopse:

Véspera de Natal. A reunião da família Lee é arruinada pelo barulho ensurdecedor de móveis sendo destroçados, seguido de um grito agudo e sofrido. No andar de cima, o tirânico Simeon Lee está morto, numa poça de sangue, com a garganta degolada. Mas quando Hercule Poirot, que está no vilarejo para passar o Natal com um amigo, se oferece para ajudar, depara-se com uma atmosfera não de luto, mas de suspeitas mútuas. Parece que todos tinham suas próprias razões para detestar o velho...

Uma coisa que aprendi há muito tempo e, ao terminar O Natal de Poirot só tive mais uma prova disso, é que jamais devo resenhar o livro no instante que o termino, tenho de pelo menos esperar algumas horas ou de preferência dormir entre o momento que acabo o livro e o momento que vou falar sobre ele.

Quem leu minha resenha da primeira experiência com Christie sabe que me decepcionei com ela, ainda que tenha ficada impressionada com o caso em si, considerei que tenha havido dois grandes problemas.
Em O Natal de Poirot ao menos um desses problemas é resolvido o que já melhora em muito o livro.

Em vez de uma enxurrada de personagens jogados para cima de nós em um curto espaço de tempo, aqui, apesar de também haver um quantidade considerável, eles nos são apresentados calmamente, em momentos diversos, nos permite conhecê-los, gostar e desgostar, tentar entender sua personalidade. E, assim, até mesmo considerar se ele fez ou não o crime.

― Numa conversa, as coisas surgem! Se um ser humano fala muito, é impossível evitar a realidade! (...) todos mentem. Às vezes é necessário. É importante separar as mentiras inócuas das mentiras vitais. 

Apesar de lacar de elementos que considero clássicos nesse tipo de livro, a adrenalina ao menos no final - de fato é irritante que, seu fim, como no livro anterior, tenha sido bastante parecido com Poirot explicando calmamente o que aconteceu por páginas e páginas, de uma forma meio monótona até, para que o(a) assassino(a) simplesmente dizer "É, foi isso mesmo" - esse caso me interessou muito mais, afinal há dois crimes distintos envolvidos - um roubo e o assassinato - e você tem de se perguntar: "Foi mesmo distinto? Ou tem relação? Se sim, qual? O assassinato foi consequência do roubo? O roubo foi um disfarce para o assassinato?"

Uma coisa engraçada, e novamente apenas se comprar com o livro que li antes, é que lá se faz grande alarde que Poirot dá duas soluções para o caso - o que de verdade, ele não faz, já que uma delas é descartada quase imediatamente pois não faz sentido, mas enfim - e nesse caso ele dá três que poderiam funcionar sem deixar nenhum furo, e não comentam sobre isso. É meio estranho.

― (...) As pessoas mais calmas e meigas são, em geral, capazes das mais súbitas e inesperadas violências. Por uma simples razão: quando perdem o controle, perdem-no completamente! 

De qualquer forma, quando o crime, o verdadeiro crime, enfim é revelado e pude fechar o livro, o fiz me sentindo enganada. Como poderia ter sido aquilo? Então tudo que falaram durante o livro, todas as supostas pistas que eu recebi para tentar desvendar foram apenas uma mentira?! O que me deixa super feliz da minha regrinha de não escrever a resenha logos após o término do livro.

Afinal, eu tinha marcado de me lembrar, quando fosse escrever essa resenha, de algo que me irritou o livro todo, algo que para mim demonstrava pouca criatividade da autora e que me irritou com uma sensação de repeteco por muitas vezes. Mas eu não falei disso aqui. Não, porque em retrospecto percebi que a autora estava me falando o tempo todo quem era o assassino até através disso. Que Poirot falou disso o livro todo, que todos os personagens falavam disso o livro todo. O tempo todo está ali quem cometeu o assassinato, as pistas estão ali. Eu não fui enganada. Apenas não me liguei rápido o suficiente e, talvez por causa da minha experiência anterior, fui nesse livro sem tanta vontade de descobrir o assassino, talvez eu apenas não tenha sido brilhante o suficiente para ver, não sei. O fato é que não me enganou, na verdade, em retrospecto, me surpreendeu com algo que, ao menos agora, parece claríssimo. E acho que essa é uma marca dos melhores livros do gênero.

― (...), há no homem toda espécie de instintos profundos que ele mesmo desconhece. O desejo de sangue, a necessidade de sacrifício!

E, ainda de estar longe de ser um dos favoritos, ainda por eu ter desejado um final mais emocionante e com maior adrenalina, ainda assim já consigo começar entender um pouquinho melhor o título de Rainha do Crime que Agatha Christie carrega.

Nota 4/5