Divagações numa noite sem luz

Estava sem luz hoje em casa e, presa aos meus próprios pensamentos, com apenas a luz de uma vela que já se extinguia, os trovões lá fora ― e um Pikachu que brilha ― comecei a pensar nessas duas coisas tão assustadoras e corriqueiras: O escuro e o silêncio barulhento.


"No escuro, as velhas coisas ― como as mobílias desde sempre no mesmo lugar,― se tornam novas. Desconhecidas. E não é disso que dizem que tememos? Não a escuridão, mas aquilo que não sabemos. Muitos já amostraram isso antes, meu favorito, talvez, seja uma frase do Magneto que ele diz: "O que os humanos desconhecem, eles temem, e o que eles temem, eles maltratam." Outra amostra é uma velha poesia de um velho livro querido meu onde o autor nos pede para fecharmos os olhos por dez segundos e então nos pergunta se pularíamos naquela escuridão de nossos olhos. Em seguida ele pede para que fechemos os olhos novamente, mas dessa vez imaginar que, naquela escuridão, haja, mesmo que não possamos ver, a pessoa que mais amamos e confiamos. Então ele volta a nos perguntar se pularíamos naquela escuridão.

Por causa disso, e de outras coisas, me pego pensando se nós, como humanos, realmente tememos o escuro, o desconhecido. Será que esse medo é realmente algo primata e natural? Algo que temos independente de qualquer coisa? Ou será que ele é uma daquelas coisas que nos é ensinado sem perceber? Coisas comuns e corriqueiras que nós nem percebemos que nos foi ensinado e que aqueles a ensinar nem percebem que o fizeram?

O que me leva ao segundo ponto: O silêncio barulhento. Porque parece que a escuridão aumenta nosso sentido auditivo, ou talvez seja a falta dos barulhos mais comuns: A televisão ligada em toda a rua; O som do motor da geladeira zunindo baixinho; o rádio que toca uma música que você não gosta. O que faz com que os outros barulhos corriqueiros, mas que por algum motivo a tecnologia ainda não exigiu dele a eletricidade, e que são disfarçados pelos outros, se tornem audíveis: Uma criança que brinca na casa de cima; a moto que passa ao longe; o copo que quebra na casa vizinha. Tudo tão perto, tudo tão comum, tudo tão assustador.

Sei lá... Talvez eu só esteja entediada no meio dessa escuridão"