Um Porto Seguro - Nicholas Sparks

Mas realmente acredito que, embora o amor possa ferir, ele também seja capaz de curar... 

Sparks mostrando que consegue ir além do esperado.

Título Original: Safe Heaven
Título: Um Porto Seguro
Subtítulo: Nos momentos mais difíceis, o amor é o único refúgio
Saga:--
Autor(a): Nicholas Sparks
Resenhas Anteriores do Autor: Um Homem de Sorte
Editora: Novo Conceito
Páginas: 414
BookTrailer:

Sinopse:

Quando uma mulher misteriosa chamada Katie aparece repentinamente na pequena cidade de Southport, na Carolina do Norte, questionamentos são levantados sobre seu passado. Linda, mas discreta, Katie parece evitar laços pessoais formais até uma série de eventos levá-la a duas amizades relutantes: uma com Alex, o viúvo, com um coração maravilhoso e dois filhos pequenos, a outra com sua vizinha muito franca, Jo. Apesar de ser reservada, Katie começa a baixar a guarda lentamente, criando raízes nessa comunidade solícita e tornando-se próxima demais de Alex e de sua família. No entanto, quando Katie começa a se apaixonar, ela se depara com o segredo obscuro que ainda a assombra e a amedronta: o passado que a deixou apavorada e a fez cruzar o país para chegar no paraíso de Southport. Com o apoio simpático e insistente de Jo, Katie percebe que deve escolher entre uma vida de segurança temporária e outra com recompensas mais arriscadas... e que, no momento mais sombrio, o amor é seu único refúgio.

Comecei a ler o livro sem querer fazê-lo. Não estava no clima para Sparks, porém, comecei a lê-lo já que foi emprestado. Sei que minha prima não se importa que eu leve meu tempo para ler (até porque moramos longe e tenho de esperar uma chance para devolver), ainda assim levo como uma regra pessoal de pôr na frente os livros emprestados. Uma questão de cortesia, na verdade.

De qualquer forma, não levou nem dez páginas antes do livro me conquistar, me fazer pular de cabeça. Me deixou curiosa, e instigada a continuar, muitas vezes lendo por mais tempo do que normalmente o faço.

― (...) fui em frente e fiz o que fiz, porque era a coisa certa a fazer. Porque aprendi que não há problema em aceitar um pouco de ajuda de vez em quando. 

E, o que achei mais interessante, é que, apesar de ter sido o segredo, o mistério de Katie que me fez prender ao livro, e apesar de ele aparentemente ser o tema central do livro (o que na verdade é, mas o segredo, não o fato de ele ser segredo). Ele nos é revelado rapidamente, e, numa surpresa ainda maior, é revelado ao nosso galã, ao Alex. Isso me surpreendeu, afinal geralmente quando segredos são postos nos livros, são eles que arruinarão tudo, por ser segredo e não pelo o que o segredo é.

De fato, esse livro carregou muitos surpresas e quando entra nesse quesito não posso deixar de falar aqui da personagem da Jo, durante toda a leitura, essa que vira a grande amiga da principal, simplesmente não bateu comigo. Não consegui confiar nela, sempre que aparecia eu me perguntava:"O que há de errado com você? O que você vai fazer para ferrar tudo?" e, quando enfim sua parte é resolvida, fiquei verdadeiramente surpresa e, admito, gostei bastante ainda, e talvez por causa disso, que jamais esperasse por isso.

― (...) Todo mundo tem um passado, mas ele se limita a ser apenas o passado. Você pode aprender com ele, mas não pode mudá-lo.

Também não posso deixar de falar do nosso casal principal. Essa é uma daquelas raras histórias de amor em que em nenhum momento senti que o relacionamento deles estava em risco. Katie e Alex talvez sejam meu casal favorito de Sparks, ambos são engraçados e suas conversas irônicas me fizeram rir em muitas partes. E, o melhor, seu amor me convenceu.

Agora vocês talvez se perguntem: "O casal não parece correr perigo, o segredo é revelado rapidamente, então o que diabos tem nesse livro para fazer uma história interessante?" Eu te respondo: Kevin.

Ela queria que ele a entendesse, porque tinha a estranha sensação de que ele era o tipo de homem pelo qual ela poderia se apaixonar, mesmo que não quisesse. 

Neurótico, egocêntrico, um tanto megalomaníaco, definitivamente insano e bêbado. Kevin é um personagem em que eu ficava estarrecida em suas partes. Encarei o personagem como uma crítica aos fanáticos por religião e não apenas porque a cada página de suas partes o personagem citava a bíblia. Fanatismo em nada é bom. Kevin encara a bíblia como um manual de como viver, porém de sua própria forma distorcida e até pervertida. E ainda assim foi um dos personagens mais honesto que já li em muito tempo. Não falo honesto no sentido de uma boa e digna pessoa. Mas ele era como era. E seus pensamentos (o livro é em terceira pessoa, mas há partes que é possível até esquecer isso) são tão claros, que as vezes eu me pegava concordando com coisas que não tem nenhum sentido, coisas que desprezo, apenas por causa da forma como é escrita, é falada. Porque, pelos olhos de Kevin, aquilo é certo, é a coisa mais simples e clara que pode existir. Sua mente é tão distorcida que distorce a sua junto. Acho que não leio um personagem tão doentiamente são e honesto desde... do Bola de Morte Súbita (e li esse livro há um bom tempo). E sei que não irei esquecer desse personagem tão cedo. Ele e sua sã loucura é algo verdadeiramente marcante. E que mais me surpreendeu é ele ter vindo de Sparks, que é um bom autor, mas nunca esperei dele um personagem tão incrivelmente complexo e contraditório quanto esse, e por isso eu bato palmas.

― Às vezes, começar de novo é exatamente o que uma pessoa precisa. E eu acho que é algo admirável. Muitas pessoas não têm a coragem necessária para fazer algo assim. 

E por fim, como sempre, quero falar do fim do livro. Elétrico. E evolutivo. Você acha que vai ser uma coisa, mas então vem outra, fiquei nervosíssima em toda a sequência final. E toda a resolução é tal que você fica encarando a página até ter o fôlego de ler o epílogo - que é um pouco mais longo que a maioria de Sparks, mas porque trouxe uma excelente surpresa.

Não possuía quase nada, mas sentia como se tivesse mais do que nunca tivera. Sentiu-se amada pela primeira vez em anos. (...) Sabia que não poderia prever o futuro, mas, mesmo assim, se deu conta de forma repentina e incontestável que deixar essa nova existência para trás era algo inconcebível.

Se eu tivesse de definir esse livro em uma palavra seria "Surpreendente", veja quantas vezes usei essa palavra, sinônimos e derivados apenas para essa resenha. Nada acontece exatamente como você espera que aconteça, e para aqueles - e eu caio nesse grupo - que considera Sparks repetitivo e previsível esse livro demonstra que o autor ainda tem algumas cartas na manga e que consegue sim ser, bem, surpreendente.

Nota 5/5

• O livro tem poucos erros de português em si, mas seus parágrafos são longos o que muitas vezes pode ser cansativo (mas aí não sei se foi a forma que Sparks escreveu ou coisa da editora/tradução). O maior problema em si, e que se eu contasse esses pontos para dar nota com certeza o livro não receberia cinco, é a repetição de palavras, que realmente para mim é um dos erros mais chatos e mais facilmente evitáveis que há. Atrapalhou muito a leitura.
• Não gostei muito da capa. As letras em alto relevo é legal, mas - apesar de eu não saber quanto tempo o livro tem de uso - as cores já estão quase apagadas e praticamente só dá para ver os contornos dela, o que é sempre algo bem chato. A foto de fundo, apesar de ser bonita, não cabe bem com a Katie que nos é apresentada, e por isso não gostei muito.