quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Clássico e o Clichê

Um dia desses conversando com um conhecido no facebook, comentei sobre um livro que ele ama e que eu achei que faltou algo que é um tanto clássico em livros do gênero e ele me respondeu algo mais ou menos assim: "Não falta nada, melhor assim do que cheio de clichê". E isso me fez pensar que não é a primeira vez que vejo alguém confundir elementos clássicos com elementos clichês, e por isso resolvi fazer esse artigo.


Antes de mais nada, vamos definir o que é o clichê e o que é o clássico segundo os sites Dicio e Dicionário Informal

Clichê
É uma expressão idiomática que de tão utilizada, se torna previsível. Desgastou-se e perdeu o sentido ou se tornou algo que gera uma reação ruim, algo cansativo em vez de dar o efeito esperado ou simplesmente repetitivo. - Dicionário Informal
Frase ou expressão que peca pela repetição, pelo lugar-comum; banalidade repetida com frequência; chavão. - Dicio
Clássico
É tudo que resiste ao tempo - Dicionário Informal
Autor ou obra que pode servir de modelo, cujo valor é universalmente reconhecido. Considerado como um modelo do gênero: obra que se tornou clássica. - Dicio

Ou seja, apesar da base dos dois serem a mesma - aquilo já visto -, são muito diferentes. Muitos clichês nasceram através de algo clássico. A diferença é que o clássico, mesmo que às vezes seja esperado, ainda assim não se tornou algo cansativo.

Vamos pôr exemplos. Quem aqui nunca leu um e não ouviu falar de vários livros com a seguinte premissa: Mocinha indefesa com vida chata se apaixona perdidamente por um belo, porém sobrenatural, rapaz? De cabeça posso citar uns cinco livros ou sagas diferentes com esse mesmo tema. E, de tanto se repetir, agora é algo chato. Eu não leio livros com essa premissa, não mais. Se tornou enjoativo, apenas a ideia já me faz sentir tédio. Virou um grande clichê.

Mas agora, vamos dar o outro exemplo. Jovem descobre um mundo escondido dos olhos dos trouxas-mundanos-humanos-mequetrefes... das pessoas "normais" e nesse mundo que até então lhe era desconhecido, ele descobre ser alguém especial. Se do clichê eu podia pensar em cinco exemplos de cabeça, desse acho que posso pensar em uns dez. Mas não é o tipo de livro que fujo ou que se tornou cansativo. É algo esperado como um casal apaixonado num livro de romance. É meio algo que tem que ter. É um clássico já.

Tem essa série chamada How I Met Your Mother, em um dos episódio eles criam uma teoria chamada Dobler-Dahmer que diz que um gesto grandioso pode ser tanto medonho (Dahmer) quanto belo (Dobler), tudo depende em como é recebido.

Acho que o Clichê e o Clássico caem dentro dessa teoria um pouco. Da mesma forma que eu estou de saco cheio da mocinha indefesa e da criatura sobrenatural, com certeza há aqueles de saco cheio do jovem especial que desconhece o próprio mundo. E há aqueles casos que uma mesma coisa é simultaneamente clássico e clichê. Para exemplificar aqui, irei sair dos livros, e citar um filme: Star Wars.

Eu nunca vi (uma vergonha para uma nerd, mas fazer o quê?!) mas eu sei, como acho que todo mundo sabe, que Darth Vader é pai de Luke Skywalker e a cena em que ele diz: "Luke, i am your father" (Luke, eu sou seu pai) é um clássico. Porém quantas vezes já não vimos isso depois? O herói descobre ser filho do vilão, e quando vemos isso se repetir, não é um baita clichê? Eu, pelo menos, penso (sarcasticamente, é claro):"Nossa, que criativo...". E isso independente de a história ter ou não conseguido esconder aquilo de mim. Um clichê vindo direto de um clássico.

Mas então, há os elementos clássicos que acho que não pode faltar. Para citar um deles, vou falar de um livro que li da Agatha Christie, O Natal de Poirot, escrevi na resenha dele (quem quiser ler, só clicar no nome do livro) que gostei dele e do seu desenvolvimento,  mas faltou um elemento clássico. Qual foi ele? Adrenalina. Em livros desse estilo, eu espero, ao menos no seu fim, algo cheio de adrenalina, uma perseguição, uma corrida contra o tempo, qualquer coisa além de uma calmaria. Os livros de Christie são considerados clássicos, mas para mim faltou um elemento clássico desse tipo de livro. Algo esperado, e ainda assim, que acho maravilhoso.

No fim, tudo depende de como é feito, como é recebido. Depende de como vão utilizar esses elementos. Às vezes aquele livro cheio de clichê é excelente, e às vezes aquele livro considerado clássico é um saco. E então, há aqueles livros que são novos e originais, mas, muitas vezes, se olhados de perto e com cuidado, você percebe que eles são ambos - clássico e clichê jogados no liquidificador como um só. O que os transforma em nenhum dos dois. É uma balança difícil de equilibrar. Conheço várias frases de pessoas famosas que falam sobre isso, mas completarei esse artigo com uma frase própria que criei há muito tempo e algumas perguntas para vocês.

"Qualquer um é capaz de escrever uma historia Clichê, mas apenas os melhores escritores são capazes de fazê-la parecer original.”  - Bruna Melo dos Santos

Então me digam nos comentários: Qual história cheia de clichê você amou? Qual Clássico faltou algo mais? E qual história você considera, independente de ter ou não elementos clichês e/ou elementos clássicos, incrivelmente original? Para mim, são, respectivamente: A primeira trilogia dos Instrumentos Mortais, O Natal de Poirot, e a trilogia de cinco d'O Guia do Mochileiro das Galáxias.

12 comentários:

  1. Adorei o post, achei bem legal a ideia de esclarecer essas diferenças entre o clichê e o clássico. As pessoas deveriam ter mais conhecimento sobre isso. Muito bom, parabéns ;)

    Beijos! ♥
    http://viajantesdaleitura.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Nossa, sua postagem foi ótima.
    Muitas pessoas tendem a confundir mesmo.
    Eu sou fã da Agatha e amei o livro O natal de Poirot, mas devo confessar que concordo com você.
    Faltou algo para dar mais emoção, mais adrenalina.
    Você fez muitas perguntas que agora estou pensando e não tenho em mente as respostas. Acredito que essa da Agatha seria um clássico ótimo, mas que deixou a desejar em algo.
    Quanto aos outros, ficarei te devendo, rs.

    Gostei do seu comentário lá no blog sobre o livro. Realmente não coloquei minha opinião, falei demais e enfim... Só no final recomendei a leitura, o que não é de tanta vantagem.
    Fiz uma resenha do mesmo autor, quem sabe tenha ficado melhorzinha, rs.
    Desculpe não ter passado aqui antes, ficou difícil, excesso de trabalho no jornal e não deu para aparecer. Mas fico feliz por sua presença lá.

    Abraço, Bruna.
    Geralmente não costumo assinar, como o blog é escrito por duas pessoas, mas aqui é Natalia. Sempre sou eu que comento aqui :D

    M&N | Desbrava(dores) de Livros

    ResponderExcluir
  3. Olá, como vai? espero que bem, eu já acompanho teu blog e teu contúdo ha um tempinho nossa tudo muito arrumado e descente aqui, ainda não tinha me atrevido a comentar, mas aqui estou, parabéns pelo blog, e sucesso!
    PS: há pouco tempo entrei na blogosfera, se puder seguir meu blog, se gostar é claro serei extremamente grato! Mais uma vez parabéns e muito sucesso.
    Quase Meia Noite

    ResponderExcluir
  4. Oi Bruna!!!!

    Cara, seu posto é perfeito. Adorei o tema e a construção das ideias.

    Falando por mim, tem clichê que amo (por enquanto) e tem clássico que não de desce (mais). É ago bem controverso... tem tanto a ver com gosto isso que tendemos a confundir, como você mesma citou, o sentido destas duas palavras. É bem assim mesmo.

    Um clássico que deixou a desejar? ahn... pensando.... pensando.... Talvez Emma, de Jane Austen. História mega clássica, da mocinha rica que não quer se casar mas age de casamenteira...
    Um clichê que gosto? Ahn, temos tantos clichês atuais que fica difícil de escolher, mas acho que posso dizer que gostei muito da Irmandade da Adaga Negra. Vampiros lindos e sedutores com mocinhas indefesas mas que tem alguma coisa que as torna diferentes. há! Mas eu gostei.
    Um que não é nem um nem outro? Acabei de ler Garota, Interrompida. E olha, show de bola... grande pequeno livro. Adorei.

    É isso. Eu acho. ;)

    Beijos

    Escrev'Arte

    ResponderExcluir
  5. Olá!!!, Deus te abençoe,amigo bom final de semana,amei o post e o esclarecimento foi ótimo entre o clássico e o clichê, o seu blog é maravilhoso, continue assim, S-U-C-E-S-S-O
    Já estou te seguindo, aguardo a retribuição.
    Canal de youtube: http://www.youtube.com/NekitaReis
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  6. As vezes as duas palavras se confundem mesmo. Apesar de ter, para mim, um significado diferente.
    Se eu sei mais ou menos diferenciar, eu adoro as histórias de Nicholas, mesmo as pessoas falando que tem muitos clichê.
    Todos pensam de uma maneira né..


    Bom fim de semana
    Beijos
    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  7. Olá, tudo bem?
    Primeiramente, queria lhe pedir desculpas pelo sumiço e por não ter retribuído sua visita em meu blog até agora! rs
    Estava meio atolado com as coisas do colégio, mas já voltei *-*

    Cara, simplesmente adorei o seu post. Sabe quando a pessoa fala e você absorve aquilo instantaneamente, pois é.. foi isso que aconteceu aqui! rs
    Muito esclarecedor e empolgante. Eu simplesmente, gosto de alguns clichês e também de alguns clássicos, então fico com um meio termo. rs
    Já dei o meu votinho ali em cima da enquete!

    Beijos
    Adriano Gutemberg
    http://geracaoleiturapontocom.blogspot.com.br/ (passa lá ;)

    ResponderExcluir
  8. Que post incrível! Adorei!
    É bem isso mesmo... no fim das contas, a maioria das histórias tem poucas coisas novas. Mas é o escritor e a maneira realmente de contar aquela história que faz ela ser incrível, e não mais um chiclê!

    Adorei!

    Um beijo
    www.kvcomvoce.com

    ResponderExcluir
  9. Haa, com certeza esse é um post que acrescentou muito em minha vida, eu mesma já confundi algumas vezes clássico com clichê e nem notei! Nesse momento eu não sei responder as tuas perguntas, porque não li tantos livros assim a ponto de sempre compará-los... Mas de qualquer forma, todo livro tem um pouco de ambos e isso torna os livros únicos.
    Beijinhos, Thamires R.
    http://marcaprovisoria.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  10. Legal o esclarecimento. Muitos clichês de hoje em dia se apoiam nos clássicos e/ou ás vezes nas obras mais "recentes" (vide gênero sobrenatural) deixando tudo muito saturado, mais do mesmo.

    Abs

    http://tediosoc.blogspot.com

    ResponderExcluir
  11. Olá, tudo bem?

    Achei bem legal o post! Um livro que para mim começou com alguns clichês foi Filhos do Fim do Mundo, mas à medida que a história foi evoluindo os clichês se tornaram uma coisa completamente original e surpreendente. Tanto é que hoje é um dos meus livros nacionais preferido.

    Beijos.

    Enseada das Letras

    ResponderExcluir
  12. Bruna, sou apaixonada pelo modo como você escreve. Você se dispõe a falar de um assunto e boommm!!!... tudo se encaixa e não precisamos ficar matutando pra entender o que você quer passar através do seu texto. Ótima postagem, tudo a ver, pelo menos para minha pessoa, que tenho andando exaltada com alguns livros clichês. Quanto aos clássicos, poxa, como não ler? Eu sou meio estranha, acho que me chamar de estranha é até eufemismo, eu não me importo de ler clichês, desde que a trama , embora repetitiva me cative a alma. Sério, eu sou uma pessoa sensível e apaixonada, mas também sou daquelas que ainda riem com comédias de tortas na cara, entende? Se a coisa é boa não vou me cansar. Não sei se me fiz entender, mas entendi o que quis dizer com seu post e a parabenizo.
    Beijos
    Vivi
    Razão e Resenhas

    ResponderExcluir

Deixe um comentário dando sua opinião. Se concorda ou não. Se lhe inspirou ou deixe uma sugestão.

Todos os comentários são bem-vindos, desde que não sejam ofensivos (não confundir com críticas, que, além de bem-vindas, são incentivadas)

Ah, e não esqueçam de deixar o link do seu blog (se houver) retribuo todas as visitas e comentário o mais cedo possível ^^

Mas antes de comentar, lembrem-se:
"Não existe opinião certa. Existem certas opiniões. Seja livre e escolha a sua" Arthur Hisoka